quarta-feira, 15 de julho de 2015

Desenvolvimento pra quem, cara pálida?


Dizem que tinha um barbudo que escreveu uma história sobre como e porque existia a exploração do homem pelo homem. Criou uma tese. Defendeu com argumentos quase irrefutáveis. Criaram-se discípulos e irradiou-se seu pensamento mundo afora. Sobre as reverberações de suas analises, nações e povos se rebelaram. Ditaduras caíram. Outras tantas foram criadas. Salvou-se o mundo contra a bestialidade do nazismo. Muros subiram e muros caíram. E a história não acabou.

E pelo visto, este mesmo espírito marxista se mantém vivo e atuante. A America Latina pulsa pela esquerda. Povos e nações exploradas se unem, cada vez mais, em defesa de seus interesses. Novas conjunturas e novos desafios se apresentam.

E neste contexto, ocorreu na Rússia, um encontro do recente criado banco dos BRICS. Um banco de desenvolvimento que financiará projetos de infra-estrutura no Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além da manutenção de um fundo emergencial, contra as constantes crises estruturais do capitalismo.

Com estimativa de operações futuras de cifras inimagináveis, o conceito de desenvolvimento que este novo instrumento multilateral trará poderá significar a lápide do neoliberalismo. Mas isto depende do tipo de desenvolvimento que o banco vai fomentar.

Por exemplo, vai que estes países entendam que a soberania alimentar e a segurança nutricional, sejam indicativos importantes para a tomada de decisões sobre os aportes financeiros. Traduzindo para o português, pra saber onde vai por o dinheiro, o bonde vira e acha que tem que garantir o rango da galera e cada quebrada tem que se auto-garantir na função.

Se o bonde, ou melhor, o coletivo das nações signatárias dos BRICS, entender o desenvolvimento como processo conjunto e internacionalista, estratégias de projetos integrados terão mais oportunidades de investimento pelo banco.

Mas para isto, o Estado brasileiro tem que aceitar o desafio e apoiar o que determina a constituição , mobilizando vontades e viabilizando recursos para as reformas estruturais.

Suponhamos que o conceito de desenvolvimento que o Brasil defenderá, frente a seus parceiros de bloco, acredite na Reforma Agrária como vetor de desenvolvimento. Acredite na possibilidade de ampliação da fronteira agrícola, investindo na agricultura familiar. Também, na mesma lógica, acredite na importância da preservação das florestas em pé, investindo nas comunidades tradicionais e extrativistas. Bom para o país e bom para todo o mundo.

No contexto especifico do Brasil, sabemos que 70% da alimentação consumida no nosso país é produzida aqui, por pequenas propriedades. Que o modelo agroexportador, contribui para a balança comercial, mas não garante a soberania alimentar. Que temos 120 mil famílias aguardando a Reforma Agrária. Que milhões de quilômetros de solo brasileiro não foram regularizados. Mortes no campo. Grilagem de terras. Estruturas de poder paralelo. Desmatamento e porá ai afora...

O artigo 170, no capitulo I da Ordem Econômica e Financeira, consagra na Constituição Federal a função social da propriedade e a defesa do meio ambiente, inclusive com tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.
No capitulo III, especifico da Política Agrícola e Fundiária e Reforma Agrária, a Constituição define a indenização em títulos da divida agrária, para imóveis rurais que não estejam cumprindo a função social da propriedade. Também possibilita a destinação de terras publicas e devolutas, para o plano nacional de reforma agrária, compatibilizada com a política agrícola.

Considerando as mudanças na infra-estrutura com os investimentos em portos, aeroportos e ferrovias previstos, o financiamento da reforma agrária, poderá significar a ampliação da produção de alimentos e do comercio mundial.

Uma lógica de desenvolvimento conjunto, na busca da complementaridade econômica, garantia da segurança alimentar dos povos e países e soberania alimentar para o bloco.
E de quebra, este processo contribuiria para o desenvolvimento nacional brasileiro, mantendo a lógica de multiplicar e dividir. Um entendimento do tema desenvolvimento, embebido no mais puro espírito socialista dos “para quem” e “porquês” e nos valores populares e democráticos, ainda não efetivados de nossa constituição cidadã.


Alguns podem dizer, que o que Marx escreveu é apenas uma teoria e desacreditar nas suas analises. Mas também eles podem desacreditar na teoria da gravidade e sair voando. 

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