terça-feira, 15 de março de 2016

Pau que dá em Chico, dá em Francisco

Dizem que existe um país. Que neste país tinha uma música que era mundialmente reconhecida como referencia cultural do seu povo, que batucava resignado, apesar das mazelas e da pobreza fartamente distribuída.

Neste país, quem comandava eram os militares. Eles torturavam e perseguiam quem pensava diferente deles. Matavam muitos. Ou melhor, as pessoas desapareciam. Os jornalistas eram silenciados. Os artistas censurados. Os opositores detidos. Ferro e fogo, tudo na maior ordem e progresso.

Ai, teve um tal de Chico. Fina flor da sociedade. Estudou em escolas estrangeiras e tudo mais. Mas, consciente do seu papel, não deixava de usar seu dom mais precioso, na defesa do que era certo. Escreveu belas músicas, tantas várias censuradas.

Mas uma em especial, nas entrelinhas das palavras, questionava a lógica defendida pela esmagadora maioria da sociedade que ele participava. Pois, pra uma sociedade cristã, chamar Deus de gozador era demais.

Milagrosamente, os censores deixaram a música passar. Mas devia-se fazer um corte, alterar um verso. “Tirar a palavra brasileiro”, pois não condizia com contexto de nascer “na barriga da miséria”. No lugar, da palavra censurada, Chico Buarque, improvisou “batuqueiro” e finalizou seu maravilhoso e reconhecido samba chamado Partido Alto.

Talvez, esta simples história possa exemplificar o tamanho do mal que assombra este nosso país.
A elite que usurpou o poder em 64, quer voltar ao poder de qualquer jeito. Isto, no país que vinha de uma tradição escravocrata de mais de trezentos anos e que teve o segundo maior partido nazista do mundo. Tentaram via eleitoral, perderam e não aceitaram. Agora as táticas são outras. Mas a guerra é a mesma.

O motivo do golpe também foi o mesmo. Não deixar que a senzala se libertasse. Não realizar as reformas, que o país precisava e ainda precisa, que o povo ansiava e ainda anseia, mas que a casa grande não queria, não quer e nem vai querer nunca.

Eles não aceitam que enquanto no mundo todo, a desigualdade entre ricos e pobres aumentou, o Brasil foi exemplo, de como crescer e distribuir riquezas.

Porém, a última crise mundial, cíclica e sistêmica, chegou. Veio como uma marolinha, como Lula anunciou. De pouco em pouco. Construída cotidianamente na campanha anti-Brasil impetrada pelos órgãos responsáveis pelo golpe. Nem se preocuparam em esconder ou dissimular.

A cada vazamento seletivo em datas coincidentes, não importando se fosse véspera de eleição, ou de manifestação golpista programada.

A cada informação dada com exclusividade, em antecipações de publicações, usadas para retroalimentar a máquina de propaganda udenista para desconstruir um exemplo de possível caminho, contra a barbárie que o mundo se encaminha, a passos largos.

A cada dose cavalar de pessimismo. De esconder a realidade, a crise foi se instaurando e fortalecendo. Pois, detentores versados dos “saberes” herdados de tantas gerações golpistas e opressoras, entendem que para o povo, o que não é visto, não é lembrado. E o que é visto demasiadamente, acaba virando verdade, independentemente se é verdade ou não.

Assim, super-dimensionam os erros e escondem os acertos.  Setores da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça articulam abertamente com outros setores um golpe contra o governo e contra a esquerda.

A mídia sempre atuando no processo de desempoderamento do governo, com a velha e conhecida tática da critica a ineficiência e corrupção do estado, misturaram a crise econômica com a crise política.

Mobilizaram muita gente com o discurso de ódio, contra a esquerda. Usando as cores verde e amarela, foram sendo criadas as condições para o “golpe branco”. Muitos com a camisa da CBF, entidade comprovadamente corrupta e com estreitos vínculos históricos com a manutenção do poder desta elite raivosa.
E a elite está com raiva.

Nunca aceitaram , que Lula, tantas vezes chamado de semi-analfabeto, enfiasse guela abaixo desta retrograda elite, seu reconhecimento nos mais respeitáveis centros de produção de conhecimento do mundo.

Que acabasse com a fome e tirasse 40 milhões de “batuqueiros” da barriga da miséria, isto durante a maior crise desde a quebradeira de 29.

Nunca aceitaram a lei de cotas ou qualquer política afirmativa. Ver seus filhos dividindo o mesmo espaço privilegiado que os filhos de seus empregados era pedir demais.

Nunca aceitaram pobres terem direito ao acesso e ao consumo.  Dividir espaço nos aeroporto e aeronaves com os ex-pobres, recentemente elevados a dita classe média.

Nunca aceitaram o alinhamento do Brasil, com a Rússia, Índia, China e África do Sul, criando novos mecanismos de desenvolvimento como o banco dos BRICS.

Mas claro, reconhecendo que o governo Dilma teve seus enganos. Mas nenhum tão mortal quanto tentar governar com um programa econômico diverso do que o que a elegeu.
Agora, pra derrotar o governo Dilma e o PT, estão derrotando a democracia, tese comprovada na tentativa de condenar sem julgamento o presidente Lula.

Lula foi seqüestrado pelos agentes do Estado, pois a lei determina que uma pessoa só deva ser levada coercitivamente para prestar depoimento, caso ele seja convocada e se negue comparecer.

Como defende importantes correntes do PT, o sequestro do presidente Lula teve óbvias motivações políticas. Desde o início da “Operação Lava Jato”, sabíamos que o juiz Moro e seus cúmplices estavam forjando as provas necessárias para o impeachment da presidenta Dilma, para a cassação da legenda do PT e para a prisão do ex-presidente Lula.

Infelizmente, parte da esquerda brasileira não acreditou que Moro seria capaz de ir tão longe. Esqueceram que a direita reserva a lei apenas para os amigos. Para os inimigos, nem mesmo a lei. Pois nem sempre pau que dá em Chico, dá em Francisco

Para eles a democracia não tem valor, não importa se existe crime ou não. Só a versão dos fatos apresentados. 

E quanto ao povo, a solução deles é simples, como apresentada no caso da censura: Corta Percival. Afinal a elite não gosta nem de verdade, nem de povo e nem de samba. Mas, como canta outra música do Chico: "Deixe em paz, meu coração, que ele é pote até aqui de magoas, e qualquer desatenção, faça não! Pode ser a gota d'água".



P.S. Ah... não esquecemos que a GLOBO apoiou o Golpe em 64 e a revista Veja tem os mesmos sócios patrocinadores do aparthaid na África do Sul. 

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