Dizem que existe um país. Que
neste país tinha uma música que era mundialmente reconhecida como referencia
cultural do seu povo, que batucava resignado, apesar das mazelas e da pobreza
fartamente distribuída.
Neste país, quem comandava eram
os militares. Eles torturavam e perseguiam quem pensava diferente deles.
Matavam muitos. Ou melhor, as pessoas desapareciam. Os jornalistas eram
silenciados. Os artistas censurados. Os opositores detidos. Ferro e fogo, tudo
na maior ordem e progresso.
Ai, teve um tal de Chico. Fina
flor da sociedade. Estudou em escolas estrangeiras e tudo mais. Mas, consciente
do seu papel, não deixava de usar seu dom mais precioso, na defesa do que era
certo. Escreveu belas músicas, tantas várias censuradas.
Mas uma em especial, nas
entrelinhas das palavras, questionava a lógica defendida pela esmagadora
maioria da sociedade que ele participava. Pois, pra uma sociedade cristã,
chamar Deus de gozador era demais.
Milagrosamente, os censores
deixaram a música passar. Mas devia-se fazer um corte, alterar um verso. “Tirar
a palavra brasileiro”, pois não condizia com contexto de nascer “na barriga da
miséria”. No lugar, da palavra censurada, Chico Buarque, improvisou
“batuqueiro” e finalizou seu maravilhoso e reconhecido samba chamado Partido Alto.
Talvez, esta simples história
possa exemplificar o tamanho do mal que assombra este nosso país.
A elite que usurpou o poder em
64, quer voltar ao poder de qualquer jeito. Isto, no país que vinha de uma
tradição escravocrata de mais de trezentos anos e que teve o segundo maior
partido nazista do mundo. Tentaram via eleitoral, perderam e não aceitaram. Agora
as táticas são outras. Mas a guerra é a mesma.
O motivo do golpe também foi o
mesmo. Não deixar que a senzala se libertasse. Não realizar as reformas, que o
país precisava e ainda precisa, que o povo ansiava e ainda anseia, mas que a
casa grande não queria, não quer e nem vai querer nunca.
Eles não aceitam que enquanto no
mundo todo, a desigualdade entre ricos e pobres aumentou, o Brasil foi exemplo,
de como crescer e distribuir riquezas.
Porém, a última crise mundial,
cíclica e sistêmica, chegou. Veio como uma marolinha, como Lula anunciou. De
pouco em pouco. Construída cotidianamente na campanha anti-Brasil impetrada
pelos órgãos responsáveis pelo golpe. Nem se preocuparam em esconder ou
dissimular.
A cada vazamento seletivo em
datas coincidentes, não importando se fosse véspera de eleição, ou de
manifestação golpista programada.
A cada informação dada com
exclusividade, em antecipações de publicações, usadas para retroalimentar a máquina
de propaganda udenista para desconstruir um exemplo de possível caminho, contra
a barbárie que o mundo se encaminha, a passos largos.
A cada dose cavalar de
pessimismo. De esconder a realidade, a crise foi se instaurando e fortalecendo.
Pois, detentores versados dos “saberes” herdados de tantas gerações golpistas e
opressoras, entendem que para o povo, o que não é visto, não é lembrado. E o
que é visto demasiadamente, acaba virando verdade, independentemente se é
verdade ou não.
Assim, super-dimensionam os erros e escondem
os acertos. Setores da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça
articulam abertamente com outros setores um golpe contra o governo e contra a
esquerda.
A mídia sempre atuando no processo de desempoderamento do
governo, com a velha e conhecida tática da critica a ineficiência e corrupção
do estado, misturaram a crise econômica com a crise política.
Mobilizaram muita gente com o
discurso de ódio, contra a esquerda. Usando as cores verde e amarela, foram
sendo criadas as condições para o “golpe branco”. Muitos com a camisa da CBF,
entidade comprovadamente corrupta e com estreitos vínculos históricos com a
manutenção do poder desta elite raivosa.
E a elite está com raiva.
Nunca aceitaram , que Lula,
tantas vezes chamado de semi-analfabeto, enfiasse guela abaixo desta retrograda
elite, seu reconhecimento nos mais respeitáveis centros de produção de
conhecimento do mundo.
Que acabasse com a fome e tirasse
40 milhões de “batuqueiros” da barriga da miséria, isto durante a maior crise
desde a quebradeira de 29.
Nunca aceitaram a lei de cotas ou
qualquer política afirmativa. Ver seus filhos dividindo o mesmo espaço
privilegiado que os filhos de seus empregados era pedir demais.
Nunca aceitaram pobres terem
direito ao acesso e ao consumo. Dividir
espaço nos aeroporto e aeronaves com os ex-pobres, recentemente elevados a dita
classe média.
Nunca aceitaram o alinhamento do
Brasil, com a Rússia, Índia, China e África do Sul, criando novos mecanismos de
desenvolvimento como o banco dos BRICS.
Mas claro, reconhecendo que o
governo Dilma teve seus enganos. Mas nenhum tão mortal quanto tentar governar
com um programa econômico diverso do que o que a elegeu.
Agora, pra derrotar o governo
Dilma e o PT, estão derrotando a democracia, tese comprovada na tentativa de condenar sem julgamento o
presidente Lula.
Lula foi seqüestrado pelos
agentes do Estado, pois a lei determina que uma pessoa só deva ser levada
coercitivamente para prestar depoimento, caso ele seja convocada e se negue
comparecer.
Como defende importantes correntes
do PT, o sequestro do presidente Lula teve óbvias motivações políticas. Desde o
início da “Operação Lava Jato”, sabíamos que o juiz Moro e seus cúmplices
estavam forjando as provas necessárias para o impeachment da presidenta Dilma,
para a cassação da legenda do PT e para a prisão do ex-presidente Lula.
Infelizmente, parte da esquerda
brasileira não acreditou que Moro seria capaz de ir tão longe. Esqueceram que a
direita reserva a lei apenas para os amigos. Para os inimigos, nem
mesmo a lei. Pois nem sempre pau que dá em Chico, dá em Francisco
Para eles a democracia não tem
valor, não importa se existe crime ou não. Só a versão dos fatos apresentados.
P.S. Ah... não esquecemos que a GLOBO apoiou o Golpe em 64 e a revista Veja tem os mesmos sócios patrocinadores do aparthaid na África do Sul.



Nenhum comentário:
Postar um comentário