sexta-feira, 5 de novembro de 2010

MACHISMO – Quando uma imagem vale mais que quantas palavras...




É com muita satisfação que inicio meus relatos sobre o Curso de Formação em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça, promovido virtualmente pela UFMG, que estou tendo a oportunidade de participar.

A motivação do presente relato surgiu do formato do curso, onde é disponibilizado um espaço para considerações pessoais. Como não entendi qual o sentido desta ferramenta, estou o relato pessoal escrevendo como se fosse meu blog.

Após a leitura do texto de apresentação do módulo 1 – Políticas Públicas e Promoção da Igualdade, iniciei o trabalho olhando preguiçosamente as fotos disponíveis no site http://www.mulheresemovimentos.com.br

Confesso que no começo não demonstrei o entusiasmo que agora apresento. Porém, como a ação do desembaçador no vidro do carro em dia de chuva, fui aos poucos "ampliando" a minha percepção do que está tão claro no nosso mundo, mas, que de tão corriqueiro e constante, praticamente se naturalizou na nossa vida.

Vi muitas imagens de mulheres auto-organizadas para lutar contra o preconceito, a discriminação e o machismo. Também vi manifestações pelo equidade de direitos e a favor da legalização do aborto. Inclusive confirmei que faço aniversário no dia Latino-Americano e Caribenho pela legalização do aborto (28 de Setembro), isto sem falar que é o Dia da Lei do Ventre Livre e Dia da Liberdade de Expressão.

Contudo, olhando as imagens na tela do computador, nada me chamou mais atenção que uma foto tirada na lagoa do Abaeté, Salvador Bahia - Brasil datada em 1989.

Nela, aparece uma criança sorridente do gênero feminino, nas margens da lagoa, jogando água sobre sua cabeça, aparentemente refrescando-se. Até ai tudo bem, porém os outros elementos que compõem a imagem citada, aumentam a dramaticidade da cena, (para não dizer o drama da vida). A menina está cercada de vazilhas. Em uma contagem rápida e pouco rigorosa, foram identificados mais ou menos dez panelas brilhantes, sem falar na bacia abarrotada de tampas, pratos e outros utensílios domésticos.

Olhando a foto, fico pensando o quanto ela trabalhou para lavar aquelas panelas na foto representada. Talvez tenha ficado o dia inteiro na beira do lago lutando para que as benditas fossem "areadas", que como aprendi com minha mãe, é usar areia da margem dos rios ou lagos para melhor lavar as utensílios.

Para quem não viu a foto, talvez estas informações não sejam tão impressionantes, mas ainda tem uma outras referencias da foto que denotam, intencionalmente ou não, a realidade pouco a pouco, ensinada e aprendida no cotidiano do nosso país. Atrás da menina e daquele monte de panelas, estão duas outras crianças do gênero masculino. Eles estão no fundo da fotografia, dentro d água.

Fico olhando a foto e problematizando a tentativa de registro daquela realidade, que, tirando algumas especificidades, nada trás de novo sobre ao sol. Talvez os meninos estavam o dia inteiro brincando na lagoa como toda criança deveria fazer. Talvez até ajudaram a menina carregar as vazilhas até a beirada da água. Quem sabe são parentes ou então nunca tinham se visto?

Olhando a imagem, não podemos afirmar muita coisa, a não ser, que ela representa uma relação social muito comum na nossa sociedade, onde "ser mulher" significa assumir compulsoriamente toda a realização dos trabalhos domésticos e outras posturas socialmente determinas pela educação machista, que prejudicam diaturnamente uma parcela significativa da população mundial.

Este é apenas um dos vários aspectos que ampliam a exclusão das mulheres. Alguns sutis e mais difíceis de perceber como o assedio moral, indo dos salários diferenciados entre funcionárias e funcionários no mesmo nível de cargo nas empresas até a padronização estética ideologicamente injetada na cabeça das pessoas, obrigando-as, lutar como uma Don Quixote (não encontrei um termo feminino para substituir) contra os moinhos de vento da balança, do espelho, da própria aparência, afinal contra a própria existência.

Mas nada é mais absurdamente ignorado devido ao tamanho da comprometimento da integridade física e da vida de determinadas mulheres do que as mutilações genitais, os estupros, assassinatos e uma dezena de subcategorias de opressão, onde estas seres humanos que nasceram fêmeas e por isto, são ensinadas desde de pequenininhas, como se sentar ou vestir, no que acreditar ou temer, como cuidar dos filhos, cozinhar ou escolher o marido, afinal, como ser esta ferramenta em favor da sociedade capitalista, o tal dito sexo frágil, socialmente definido como mulher.

Leonardo Alves Batista

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