quinta-feira, 15 de abril de 2010

O peso das palavras

Na tentativa de explicar seu posicionamento no seu blog referente ao movimento LGBT, a Ex-Ministra e pré-candidata do PV à presidência da republica ex-senadora Marina Silva, na minha opinião, no mínimo escorregou nas próprias palavras.

Ela começa o seu texto “O que penso sobre o movimento LGBTs", com as seguintes colocações: “Quem conhece a minha história e convive comigo sabe que respeito as diferenças e sou defensora da tolerância.”

Será que li direito? TOLERÂNCIA? Minha concepção de tolerância é muito parecida com a de Bernard Lewis, professor de História da Universidade de Princeton. Ele defende que “A tolerância é, naturalmente, uma idéia extremamente intolerante, porque significa, eu que mando e lhe permito alguns direitos que aprecio, mas não todos, só enquanto você se comporta de acordo com os padrões que determino”. O diretor executivo do Midwest Centre for Holocaust Education, no Kansas, Jean Zeldin, propõe “que o oposto da intolerância não seja tolerância. Seja compreensão. Seja aceitação.”.

Na minha opinião, entre todos os emaranhados de conceitos e preconceitos, existem termos que eu considero piores, porque através de referências de“tolerância” escondem nas entrelinhas, o preconceito.

Segundo o Dicionário Michaellis, tolerar significa suportar com indulgência, transigir, admitir, dar tácito consentimento a. Pra quem não lembra do que é indulgência, vale a pena dar uma olhada no mesmo dicionário, onde consta ser a qualidade do indulgente, clemência, condescendência, tolerância, remição total ou parcial das penas relativas aos pecados, perdão.

Penso que tolerância seria mais ou menos assim. De repente, você deixasse de considerar as características não-aceitas ou rejeitadas socialmente em determinado grupo (cor, gênero, condição física ou mental, condição socioeconômica, orientação sexual-afetiva, etc...), cedendo uma parcela de consideração, um pouquinho, em doses conta-gotas, de respeito e dignidade.

Esta resposta de Marina Silva, segundo seu blog, é decorrente de uma carta do militante do movimento LGBTs, vereador pelo Partido Verde (PV) de Alfenas-MG, Sander Simaglio.

Gay assumido, ele escreveu uma carta para a senadora, com cópia para outras pessoas, dizendo que a canditata “escondeu” a bandeira arco-íris, símbolo internacional da luta conta o preconceito LGBT e homofobia.

Nesta carta, ele conta que ele lhe entregou a bandeira durante o evento de posse do novo presidente do PV-MG, partido politico dos protagonistas, e disse em seu ouvido: 'Trouxe um presente para a senhora: uma bandeira gay'. 'Faça como o presidente Fernando Henrique e o presidente Lula, abra e a levante com orgulho pra todo mundo ver que a senhora é uma candidata que quer dialogar conosco, 19 milhões de cidadãos LGBTs brasileiros'."

Ao entregar a bandeira a Marina Silva, o vereador diz que reparou no "semblante de espanto" da ex-senadora. "Abri a bandeira para a senhora, na esperança de que iria repetir o ato de diversos políticos brasileiros que rotulamos como modernos, livres do ranço do conservadorismo e a senhora, para minha surpresa, deu um jeitinho de me abraçar com uma mão e com a outra, por baixo, esconder, mais que depressa, o símbolo da luta do movimento homossexual brasileiro", conta o vereador, e que em outra parte do texto, diz que ainda não sabe se vai votar ou pedir votos para a senadora.

Pessoalmente, não sei, senhora ex-senadora, se o intuito de seu texto é se posicionar referente à carta assinalada e ao movimento de gays, lésbicas, homossexuais, transgêneros, travestis, ou uma estratégia de sua assessoria para que o suposto ato denunciado pelo seu companheiro de partido, não repercuta negativamente na eleição presidencial.

O que sei é que o mundo é diverso e as conquistas e avanços na garantia da dignidade humana para todas as pessoas não acontecem por acaso. Eles são resultados de lutas individuais e coletivas, de organizações e de pessoas solidárias às causas.

Defendo que o movimento LGBT, assim como o movimento negro, de mulheres e de todos e todas as pessoas que sofrem preconceito e discriminação não precisam de “tolerância”, mas de solidariedade e respeito.

Leonardo Alves Batista
Militante dos Direitos Humanos
Coordenador Geral do COEXISTA
Petista

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