sábado, 17 de março de 2012

Inversão da imagem: o papel das instituições no Brasil

Por Leonardo Alves Batista

Recentemente, tive acesso a um comercial, no mínimo inusitado do “Jornal Nacional” das Organizações Globo. Podem alguns dizer que é um vídeo institucional, mas pra mim é a mais deslavada propaganda que eu já vi na vida. Onde já se viu, um jornal e toda sua credibilidade autoreferendar-se. É confuso para mim, ver os ancoras deste prestigiado “jornal”, lindos como só vendo, fazendo uma encenação, onde imitavam “eles mesmos”. E para completar, anunciavam as noticias como se dialogassem com o povo do outro lado da tela da televisão. Realmente, depois de ver isto, acho que preciso fazer terapia.

Eu gosto muito de propaganda e há muito tempo eu não via uma peça tão bem elaborada, cujo objetivo de persuadir para determinada idéia atingiu os limites imponderáveis do factível. Porém, com um pouquinho de senso critico, dá para entender o quanto o colorido mundo da televisão é “uma historinha de faz de conta”, mas infelizmente, com as mais antirepublicanas e antidemocráticas razões.

No vídeo apresentado, é forjado um dialogo, como se as falas dos apresentadores do jornal e dos espectadores fossem alternadas, em uma agradável conversa na intimidade do lar do povo brasileiro. Primeiramente, o casal está como geralmente a gente os via, dentro da caixa mágica de fazer sonhar, sentadinhos na bancada, dentro da tv. Mas depois a imagem se inverte magicamente, e Willian Bonner e Fátima Bernardes começam a ver o publico na tela, no lugar de meros espectadores, o povo se transforma em protagonista.

Se as Organizações Globo enxergam o Brasil através de uma tela, como é apresentada no comercial, acho melhor chamarem o técnico, pois seu “aparelho global” está com problemas na imagem, principalmente do que é papel de um jornal.

Primeiro, porque não existe possibilidade de dialogo neste tipo de relação, senhores. Sempre é um monologo, onde “eles” dizem o que querem do jeito que querem, de quem querem e sem se importar com as reputações e a dignidade humana das pessoas, que muitas vezes levianamente, são representadas de forma equivocada nas suas reportagens, tantas vezes tendenciosas. Segundo, poderíamos entender que o dialogo é uma leitura que os jornalistas da emissora fazem da sociedade brasileira, mas ai, a incoerência do vídeo é se torna mais gritante ainda, afastando-se cada vez mais da nossa realidade.

Se as leituras da Globo conhecessem o povo do Brasil saberia que a maioria esmagadora da população escolheu um projeto político que esta instituição de comunicação, antidemocraticamente não aceita para o país. O ódio, a intolerância e a megalomania desta emissora podem ser referendados em muitas ocasiões da nossa história. No Rio, já fraudaram a eleição contra o Brizola em 82. Já editaram tendenciosamente o debate do Lula x Collor em 89, e na ultima eleição, montaram a vergonhosa farsa da bolinha de papel, com o objetivo de favorecer o candidato da Direita, Jose Serra. Aquele teatro, cujas tintas ainda estão frescas na memória, foi um atentado à democracia, com direito a perito suspeito e tudo quanto baixaria, expressando mentiras com o padrão de qualidade excepcional e sua dicção perfeita, sorrisos largos e ternos bem cortados. Pena que no quesito ética, este padrão deixa tanto a desejar.

Assépticas como cirurgias cerebrais, os “deles” e os “delas” da Rede Globo, cotidianamente, jogam noticias sem muito rigor ético ao vento, entre risinhos mal disfarçados que somente muita técnica comunicacional ou obscuras ligações de ancoras com a CIA permitem. Porém a “cada ultimo escândalo” fabricado, requentado, ou verdadeiro, tenho mais certeza que a linha editorial da Globo e de outros veículos de comunicação, não dialogam com a maioria do povo brasileiro, que elegeu uma ex-guerrilheira como presidenta do nosso Brasil. Ela que lutou pelo restabelecimento da normalidade da democracia, hoje tem que conviver com setores de nosso país que não aceitam o desejo democrático do povo brasileiro, expresso nas urnas do sufrágio universal.

Atualmente, estes setores são encabeçados por empresas de comunicação, principalmente Globo e Abril que, como a funcionaria executiva do grupo Folha de S.Paulo, Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) fez a seguinte declaração no diário carioca O Globo (18/3/2010): "A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação e, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo."

Já que é para fazer oposição político-ideológica, poderiam decentemente introduzir a letra P, de partido na frente da sigla da instituição, criando o PANJ – Partido da Associação Nacional de Jornais. Assim, de quebra, formatariam uma opção para a candidatura à Presidência do Brasil em 2014 da direita retrograda do nosso país.

E já que tá tudo invertido. O DEM e o PSDB poderiam lançar um canal de televisor. O que? Eles já têm políticos e laranjas como donos de vários? Xi... Então tem razão esta inversão de papeis institucionais. Afinal para quê que serve a imprensa? Será que é para fabricar noticiais? Como o recente caso da revista VEJA em um hotel de Brasília? Será que é para assumir uma linha político-partidária, sem abrir mão da “historinha da carochinha” da imparcialidade, com direito à código de conduta eticoprofissional.

Estou até vendo, as manchetes dos jornais na época da eleição. A única diferença é que vão parar de tentar enganar quem quer que fosse, com o discursinho facilmente demonstrável nos registros da história de nosso país, que no fundo, no fundo, a mídia corporativista burguesa nunca, nem em cobertura de festa infantil de filho de celebridade, realizou jornalismo isento e imparcial. Sempre tiveram lado, e nunca era o do povo brasileiro. Já emprestaram carros para os carrascos da ditadura transportar presos políticos ilegalmente detidos para aparelhos de tortura e morte. Aliais, só para constar, é valido a leitura das manchetes dos jornais no ato de instauração do terror e do arbítrio em nosso país. Teve jornal saudando a “revolução” feita à base de medo, sangue, suor e lágrimas, manchando de vermelho, o verde oliva da nação brasileira.

Podemos lembrar as manifestações na maior cidade do Brasil, onde milhares de pessoas foram às ruas de São Paulo pedir o fim da ditadura militar, mas o mesmo Jornal Nacional, noticiou que era o aniversário da cidade. Como podemos ver, esta história de inverter os papeis na mídia é antiga, e acho que agora com a grande aprovação do governo Dilma, vão assumir de vez o papelão de lutar contra os interesses do povo brasileiro, tentando derrubar na marra o governo democraticamente eleito.

É para comprovar que os meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país só dar uma lida rápida nos “blogs sujos”, fontes mais fidedignas de informação, do que estas instituições, que perdem cotidianamente, entre um post, replay a pouca credibilidade que ainda dispõe.

As mascaras estão caindo, junto com os índices de audiência e o faturamento publicitário, que deve, cada vez mais ser pulverizado em diversificados e capilarizados meios de comunicação, mas esta é outra história.

Se considerarmos a qualidade do que produzem estas instituições, penso que muitos veículos aqui citados devem achar que é o seu papel é algo próximo ao higiênico, porém fartamente usado. Ou seja, um papel sujo como fezes, fétido, fútil, feio e falso.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A privatização petista e a privataria tucana

Já tem gente falando que o PT enterrou suas bandeiras quando privatizou os aeroportos de Viracopos e Guarulhos, pois sempre foi contra as privatizações executadas no governo FHC, caindo assim em contradição programática. Primeiramente, precisamos separar o joio do trigo, o que foi igual e o que foi diferente.

A fundamental diferença na condução dos dois processos é mais facilmente expressa pelo papel do estado. Se por um lado o BNDS - Banco Nacional do Desenvolvimento Social, instituição bancaria pública, financiou ambas as situações de privatização, por outro o destino do patrimônio público do povo brasileiro privatizado por Dilma, continuará nas mãos do governo, legitimo representante escolhido por este mesmo povo. Além do mais, o que Dilma fez foi uma concessão pública por tempo determinado, com opção ou não de renovação e garantia do patrimônio estatal.

Na era do ex-presidente Fernando Henrique, empresas lucrativas como a Vale do Rio Doce foram vendidas a preço de bananas, transferindo para a iniciativa privada nossa riqueza, pois o controle das estatais passou para as mãos de investidores internacionais. No primeiro sinal de crise, aquela marolinha econômica que nem afetou diretamente a empresa, os novos donos demitiram funcionários, pois o seu interesse é meramente financeiro, como prevê a conveniência do discurso capitalista. E com um governo irresponsavelmente entreguista, cujo pensamento podia ser entendido na seguinte fala do ex-presidente FHC:

— É preciso dizer sempre e em todo lugar que este governo não retarda privatização, não é contra nenhuma privatização e vai vender tudo o que der para vender.

Esta perda do controle não se efetivou no governo Dilma. Apesar do financiamento também ser executado pelo BNDS, os aeroportos foram comprados em sua maioria acionária, por instituições diretamente ligadas à estruturas governamentais. Fundos de pensão de trabalhadores de outras estatais e a compra de ações vinculadas a INFRAERO abocanharam do estado para o estado, o controle deste estratégico setor do desenvolvimento e defesa brasileiro, levando de quebra, 24 milhões para os necessários investimentos na melhoria da prestação do serviço e resolução dos gargalos históricos de nossa infra-estrutura.

Se considerarmos apenas a atuação do banco estatal no processo de escolha dos investimentos a serem financiados, a distinção dos projetos petistas e tucanos ficam evidentes. Financiar os aeroportos tem um grande impacto socioeconômico, principalmente devido ao potencial turístico brasileiro, amplificado pela realização de grandes eventos esportivos no nosso país. Nas inúmeras estatais vendidas anteriormente ao governo Lula, além do assalto aos cofres públicos, denunciado pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr., no livro a Privataria Tucana, a venda das estatais foi pano de fundo para o maior assalto cometido aos cofres públicos pelas lideranças políticas do PSDB e seus apoiadores.

Além de todo o roubo, a privataria tucana não trouxe nenhum beneficio para o povo brasileiro, excetuando em alguns casos das telecomunicações. Contudo, também resultou no aumento vertiginoso do custo das ligações telefônicas para os consumidores.

Já os desvios de recurso ficam evidentes, pois para onde foi o dinheiro que o Brasil arrecadou com estas vendas? Isto sem falar que a Vale do Rio Doce arrecadou no primeiro ano após sua negociação pelo PSDB, lucro igual ao valor de venda. É como se você vendesse uma casa, fosse morar nela de aluguel e o valor cobrado para você continuar morando lá em um ano ser igual ao o que arrecadou se desfazendo do que era seu. Isto sem falar que ela explora um bem finito que quase não paga imposto e que costuma deixar buracos e problemas socioambientais nas regiões em que se instala. O governo ainda tem ações da antiga estatal, mas não possui o controle. Além do que, este patrimônio, que já foi publico, não voltará nunca mais para as mãos do povo brasileiro, diferentemente dos aeroportos. Já tem gente até falando que a privatização que governo petista realizou foi chapa branca, pois quem vai continuar mandando e dono do que foi vendido vai continuar como antes, literalmente de Cesar para Cesar, ou Melhor de Dilma para Dilma, arrecadando recursos financeiros estratégicos para desenvolvimento social que até nomeia o banco financiador e delimita o que a esquerda pensa como função de um banco público como o BNDS. E ainda falam que só tem negócio bom na China!

Dia: 07/ 02/2012